Monday, December 7, 2009

Escola Brasileira de Futebol Faz Sucesso em Gatineau


Sueli dos Santos, brasileira, empreendedora e treinadora de futebol, mãe de cinco filhos e dona da Academie Canada-Brasil Futebol, tem motivos de sobra para comemorar o fim de 2009. Em 2010, sua escola tem pela frente apenas desafios relacionados ao crescimento. Vencendo o tabu de que somente brasileiros com doutorado são vitoriosos no país, ela mostra sua força feminina no futebol.

Damien Mérette e Justin Maheu são os maiores troféus de Sueli. O primeiro, filho dela, é parte do elenco da Seleção Sub-18 do Canadá, joga atualmente no Nacional de São Paulo, no Brasil, e conseguiu uma bolsa para estudar na Universidade da Califórnia (UCLA). O segundo está escalado para a Seleção Sub-17 também do Canadá, joga no FC Toronto e também conseguiu uma bolsa de estudos.

Joey Pascoa é outro motivo de orgulho para Sueli, que se diverte com as experiências do rapaz que joga atualmente no Bahia, um dos maiores times do nordeste brasileiro. “Ele diz que o pessoal de lá é muito divertido, canta e dança o dia inteiro. Quando acorda, toma café e volta para dormir mais”, conta a brasileira às gargalhadas.

Todo esse sucesso traz novos desafios. Há sete meses, Sueli trouxe do Brasil o jovem e experiente treinador, Victor Souza, para auxiliar nos trabalhos que só vêm crescendo. “O Canadá investe bastante no futebol, mas não há profissionais qualificados para dar treinamento”, revela a brasileira batalhadora. Seu marido, Marcel Mérette, professor universitário, concorda.

Victor Souza chegou ao Canadá aprendendo inglês e sem noção alguma de francês. Em poucos meses, já dá instruções até a adultos nas duas línguas. “Aprendi com as crianças. Eu ouvia a Sueli falar com elas quando cheguei. Também falo muito com os filhos e o marido dela em casa”, ele conta. O rapaz ainda precisa terminar uma especialização no Brasil e pretende voltar de lá de mãos dadas com uma brasileira para formar família aqui.

Marcel Mérette era jogador bem sucedido de hockey em seu país, quando foi atropelado pelos projetos de Sueli em relação ao futebol. “Fui quase obrigado, não tive escolha. É a mesma coisa que trocar de religião, trocar de esporte”, comenta o canadense com humor tipicamente brasileiro, arrancando gargalhada dos presentes. Economista, ele se divide entre suas obrigações e a ajuda que dá à esposa.

Turismo Esportivo

Sueli dos Santos ainda encontra tempo para levar canadenses para conhecer clubes de futebol no Brasil. Através de seus contatos no São Paulo e no Nacional de São Paulo, ela organiza grupos de turistas interessados em conhecer a realidade interna do futebol na capital paulista, e às vezes até consegue encontrar jogadores famosos.

Foi o caso em 2002, quando um grupo de 35 pessoas organizado pela brasileira teve a felicidade de encontrar Kaka nas instalações do São Paulo. “Como ele foi atencioso! Deixou os jornalistas para dedicar um pouco do seu tempo a gente. Conversou com os meninos, tirou fotos com todo mundo, até com os pais”, contou Sueli. Ela própria não tem fotos com o ídolo internacional. “Eu morro de vergonha”, diz a simpática treinadora.

Além do pacote de visita aos clubes, ela organiza também testes para os interessados em jogar no Brasil. “Há meninos que conseguem passar, os clubes fazem ofertas, telefonam para o Canadá para falar com as famílias, mas algumas delas ainda não se sentem seguras em deixá-los arriscar”, avalia Sueli. “Quanto mais jovens eles tentarem, mais chances terão no futebol”, acrescenta.

Turmas Divididas Por Idade

A Academie Canada-Brasil Futebol “não é clube, é escola de futebol, não participa de campeonato”, salienta a brasileira. Tem quatro categorias entre as quais divide suas turmas. A primeira é composta por crianças entre três e quatro anos de idade, a segunda entre cinco e seis anos. “Nós chamamos essas categorias de Baby Fut”, revela Sueli dos Santos. Segundo ela, é a idade boa para implementar o trabalho da Escola Brasileira de Futebol.

“Os mais velhos já vêm com a mentalidade do hockey, que é um esporte que faz muito uso do ombro”, conta a treinadora. Futebol é com o pé e por isso mesmo é considerado um dos esportes mais democráticos, onde baixinhos, gordinhos e outros tipos físicos têm chance, ao contrário de outros esportes onde ser alto, magro e forte é imperativo. Romário, Ronaldo Fenômeno, e até mesmo Adriano, atual Campeão Brasileiro, são bons exemplos disso.

“Outro dia houve um jogo de meninas e duas delas entraram firme de ombro uma com a outra. Tive que parar o jogo e explicar que nessa idade não é legal começar assim”, conta Victor Souza. O uso de ombradas no futebol é permitido desde que o adversário não perca o equilíbrio, caso contrário o juiz assinala a falta.

A escola oferece ainda turmas para crianças acima dos sete anos de idade. “Aí já é diferente, os meninos jogam mesmo. Alguns chegam a ter muita habilidade”, revela Sueli. Acima destes está uma turma de até 18 anos. “E já estamos com uma procura de meninos de até 20 anos querendo treinar. Até pais querem bater uma bolinha”, diz ainda.

No último domingo (6/12/2009), enquanto as crianças do Baby Fut treinavam controle e domínio de bola, seus pais estavam indóceis do lado de fora do campo, doidos para bater uma bolinha também. Como muitos alunos haviam faltado com gripe, Sueli e Victor liberaram alguns minutos para que os adultos pudessem brincar. Até uma vovó jogou e foi a melhor Zagueiro Central da partida.

“É uma oportunidade de meu filho estar em contato com outra cultura”, disse Jean-Thierry Barthélus, pai de uma das crianças. Alain Peladeau tem dois filhos na escolinha de futebol, um menino e uma menina. “Eu joguei na liga da Província do Quebec há muitos anos”, conta ele que era de fato um dos mais habilidosos em campo. “Este tipo de treinamento é muito bom”, acrescenta Marc Patry, outro pai animado e bom de bola.

No fim de uma partida suada, o empate em 5x5 foi justo para Rouges e Bleus. A cordialidade dos pais com seus filhos foi a marca do jogo. Os mais habilidosos construíam todas as jogadas e deixavam as crianças de frente para o gol, prontos para chutar. Às vezes, porém, era preciso fazer todo o trabalho. Todos se divertiram muito.

Escola de Futebol Gabaritada

Sueli dos Santos é uma profissional preparada. Fez todos os cursos necessários no Canadá e alguns no Brasil também. “Quando vi que meus filhos gostavam de futebol, coloquei-os para praticar aqui. Mas era tudo muito desorganizado. As pessoas nem conheciam direito as regras e então pensei: eu faço melhor do que isso”, lembra a treinadora.

No Paulistinha de São Carlos, interior de São Paulo, Sueli estudou com Walter Gama, que posteriormente veio até dar curso no Canadá. Ela prefere aqueles cursos menos teóricos, em que o estudante fica o dia inteiro ao lado de um treinador vivendo sua realidade cotidiana no futebol. “Ao lado do treinador tem preparador físico, a gente aprende muito mais, é mais prático”, sentencia.

Victor Souza não é o primeiro treinador que ela traz do Brasil. “Já trouxe muita gente, mas eles ficam um tempo e depois vão embora. Quando o inverno está chegando, voltam para o Brasil”, diagnosticou a treinadora. Alguns eram realmente muito bons, sabiam trabalhar com crianças.

“Aqui os treinadores são voluntários. Quando eu comecei a pagar gente para vir treinar crianças todo mundo foi contra”, relembra Sueli. Com o tempo, porém, seu trabalho gabaritado começou a mostrar resultados e a própria sociedade começou a ver o que era mais vantajoso. Muita gente que mandava no setor mesmo sem entender nada de futebol começou a se sentir ameaçada pela brasileira, mas ela fez somente seu trabalho e conquistou seu espaço.

Seu objetivo é ensinar a forma brasileira de se jogar futebol. Ela só prepara os atletas, que encara como alunos que irão para times de competição. Tradicionalmente, “as crianças aqui não podem dizer nada, não podem ser criativas no esporte”, diz Sueli. Segundo ela, a criança é obrigada a obedecer ao treinador como se ele tivesse um joystick nas mãos. “Na minha escola é o contrário”, afirma. Não é por outro motivo que o futebol brasileiro é o mais bem sucedido do mundo.

Victor e Sueli dão treinos também em escolas envolvidas com o campeonato escolar de Futsal. “Alguns dos meninos são os mesmos da academia. Somos líderes do campeonato nas duas categorias, masculina e feminina”, orgulha-se Sueli.

Tudo em Casa

Victor Souza agradece muito à Sueli. Não só ele recebeu uma excelente oportunidade de trabalho, como tem moradia e alimentação por parte da brasileira batalhadora. “Em São Paulo, o meio de futebol é muito fechado. Em termos acadêmicos, então, é muito pior, todos olham com desconfiança”, comenta o treinador. “Sueli abriu portas para mim no Canadá e quanto a isso sou extremamente agradecido”, disse ainda.

Tadeu Mérette, outro filho de Sueli, tornou-se seu amigo, apesar de mais novo. A família deixa até que ele use um dos automóveis, mas a timidez do rapaz esconde muito de seu talento nas quadras e fora delas. “Estamos querendo arrumar uma namorada para ele”, brinca Sueli. Jovem, talentoso e bonito, Victor Souza é muito determinado no que faz.

Mais tarde, num jogo de torneio entre amigos em que ele entra em campo como zagueiro para defender o time do Canadá, o rapaz mostra qualidade na execução da função. Seu time perdeu de 2x0 dos rapazes da Sérvia, mas Victor foi o melhor em campo. Seus colegas ainda não entenderam que o futebol é um esporte coletivo e se preocuparam apenas com o full contact. Talvez se beneficiassem de uma escolinha brasileira.

Contato: canadabrasilfut@hotmail.com

Sueli dos Santos

50 rue jean-marc , Gatineau QC
(819) 669-1612

http://www.canadabrasilfutebol.com

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